segunda-feira, 9 de abril de 2012

Histórias de Terror Físico e Ideológico nos Aeroportos Americanos

- Introdução



Bem-vindo à América.
Oi, você mal coloca os pés no país e a coisa já começa a ficar meio esquisita. Você pode acabar sendo apalpado, revistado completamente nu e ter todos os seus dados eletrônicos (além de qualquer papelada física) confiscados e copiados para todo o sempre. Você acaba de chegar nos EUA.

É isso aí. Como aquecimento pro meu futuro artigo apocalíptico "Estados Unidos da América: A Falsa Terra da Liberdade", conheça algumas recorrentes histórias de boas vindas na gloriosa terra da liberdade e democracia.


Bebês americanos também são ameaças terroristas.


- Abusos Físicos

Comecemos pela invasão FÍSICA de privacidade. A TSA (a agência nacional de segurança em transportes) já é famosa, principalmente entre os próprios americanos, pelas suas invasivas peripécias.

É melhor ser exposto a ondas radioativas pra ser visto nu e prateado
ou ser meticulosamente apalpado por estranhos?

Além dos procedimentos padrões já serem questionáveis o suficiente (como apalpar crianças, obrigar deficientes a largarem seus aparatos ou ver pessoas nuas com aparelhos potencialmente cancerígenos), ainda há uma série de casos especiais de pessoas abusadas sexualmente, além de agentes que simplesmente desaparecem com os pertences confiscados da galera.


Sério: jovens gostosas são "aleatoriamente selecionadas" pra refazer
os procedimentos até que os agentes fiquem satisfeitos com a qualidade da imagem.
(as imagens podem ser salvas e copiadas)

"Miss USA" Susie Castillo, 2011.
Outra vítima curiosa.

Há casos, por exemplo, de agentes que colocam a mão por baixo da calcinha das mulheres (como foi com uma funcionária do ABC News). Há também denúncias de mulheres jovens que são sempre obrigadas a entrar no scanner repetidas vezes para serem vistas nuas (pode catar no google). Ou então, o caso da "Miss USA" Susie Castillo que se recusou a ir ao scanner e foi apalpada mais do que desnecessariamente em suas áreas íntimas (coisa que possivelmente acontece com outras anônimas ou humilhadas demais pra levar o absurdo à mídia). Ah, e tem também o caso da mãe que foi presa por recusar a permitir que a filha fosse inspecionada por adultos - tanto nua pelo scanner quanto revistada fisicamente.

Escroto? Aceitável? Engraçado? Normal?

Meg McLain (direita), 2010.

Aqui acima, tem o caso da infeliz Meg McLain que, depois de ser selecionada entre meia dúzia de homens feios, se recusou a ser vista nua no scanner. Sendo assim, ela teria de ser milimetricamente apalpada... conformada mas assustada, ela tinha algumas perguntas a respeito. Mas nada disso. Os agentes começaram um alvoroço porque ela tinha se recusado a ir pro scanner (?), gritaram com ela e não responderam nenhum de seus questionamentos. A menina acabou tendo a própria passagem rasgada diante dela, sendo deixada algemada e chorando de indignação por uma hora na cadeira do aeroporto. Depois disso, foi cercada por 12 policiais e 7 agentes da TSA (ela fez questão de contar) e depois levada embora do aeroporto. Teorias de conspiração culpam tanto ela quanto a TSA: vídeos do circuito interno do aeroporto não mostram exatamente a história que ela contou.

Edição duvidosa (afinal, publicada no site oficial da TSA) ou seria a Meg que tá fazendo drama...?



Também não é assim. Não revistam só as gatinhas:
se você for um menininho de 3 anos numa cadeira de rodas, também pode ser
um perigoso terrorista.

Conheça também a história de uma mulher de 37 anos (Mandi Hamlin) que tinha piercings no mamilo também teve problemas com a segurança. Ela pediu pra simplesmente mostrar os piercings à agente fêmea da TSA, mas a agente chamou vários agentes homens que exigiram que ela retirasse os piercings (!?). Ela precisaria de um alicate pra tirar um deles e insistiu que preferia mostrar os enfeites pra alguma agente mulher. Mas não. Os caras do TSA preferiram levar um alicate pra ela. Ela foi pra trás de uma cortininha e, chorando, retirou os piercings. Do outro lado, diz ela que os agentes da TSA riam e trocavam gracinhas. Ela entrou com ações legais contra o pessoal do aeroporto. Mas eis o fato mais curioso: os agentes nunca exigiram nada sobre o outro piercing que ela tinha no umbigo. 

Agora deixando o desconforto feminino de lado por um instante, conheça o deprimente caso de Thomas D. Sawyer que, por ter tido um câncer na bexiga, tem de usar um saco de urina incompreendido pelos agentes da TSA. Após ter que tirar a roupa e passar pelo detector com as calças abaixadas e o saco de urina na mão, o cara de 61 anos se vestiu de volta e, humilhado e chorando, seguiu molhado de urina para o próprio voo.


Não é de hoje que deixar as pessoas peladas é uma recorrente tática
de opressão e humilhação.

Fora dos aeroportos, as coisas não necessariamente melhoram. Qualquer pessoa na rua pode ser levada pra ser despida numa delegacia por causa dos delitos mais medíocres como, por exemplo, não usar cinto de segurança. 

São procedimentos padrões. Em 2012 mesmo, um tal de Albert Florence de Nova Jersey, por exemplo, teve que tirar a roupa pra polícia (inclusive revirando os testículos e abrindo as nádegas) porque, supostamente, havia deixado de pagar uma multa (!?!?). Sendo que a multa já estava paga (!!!!). Mesmo assim, demoraram tanto pra entender isso que ele passou SEIS DIAS PRESO. Revoltado, se envolveu em todo tipo de processo contra o que lhe ocorreu… mas até agora, não teve nenhum resultado em sua batalha legal.






- Repressão Ideológica

Pois bem, vamos agora a outro tipo de abuso. Talvez menos desconfortável, mas tão ou mais assustador e invasivo.

Antes de seguir com os Estados Unidos, conheça Lily Sussman: uma americana de 21 anos que foi meticulosamente interrogada pela polícia local quando chegou em Israel vinda do Egito (em 2009). Suspeita por uma suposta afinidade com os países árabes vizinhos (tinha um guia turístico, selos e um livro de frases úteis em árabe), perguntaram um bando de opiniões políticas e fuçaram suas fotos e tudo o mais o que ela estava carregando. Enqunto isso, sua bagagem havia sido considerada suspeita por algum motivo e estava sendo "destruída" por agentes israelenses.


Em Israel, laptops suspeitos levam tiros.

Bem, não sei de casos de laptops sendo fuzilados em aeroportos nos EUA. Mas a parte das perguntas e da bagagem suspeita não são novidade. Inclusive, assustadoramente, por causa de questões meramente ideológicas.

Já tem um tempo que o FBI, tão ocupado com as ameaças islâmicas aos EUA, resolveu espionar ONGs e ativistas aleatórios. Até o John Lennon, já nos anos 70, tinha lá sua fichinha  de 300 páginas no FBI por causa de toda sua influência na juventude. Hoje em dia, além de jogar spray de pimenta e espancar pessoas em Wall Street, o governo americano também precisa espionar pessoas comuns com tendências ~revolucionárias~ por suspeita de "terrorismo doméstico".

Jornalista e diretora americana Laura Poitras.
Vítima recorrente de inspeções pelo próprio país.

Sobre o caso da jornalista e diretora Laura Poitras, a história dela é assustadoramente mais específica: inconformados com o que a maldita tanto apronta com seus documentários, o Departamento de Segurança Nacional precisa apelar pra interrogá-la diretamente toda vez que ela coloca os pés em algum aeroporto americano.

E ela não é a única. Em meros 18 meses, além dos recentes casos das pessoas relacionadas ao WikiLeaks, mais de 6600 pessoas comuns (quase metade americanos) foram interrogadas e tiveram todos seus aparatos eletrônicos confiscados sem sequer a necessidade de um mandato oficial


Pascal Abidor.
Quem viaja de trem, também não escapa.
Pascal Abidor, um estudande de 26 anos fazendo um Ph.D. em estudos islâmicos, foi interrogado, algemado, tirado do trem em que viajava (de Montreal a Nova Iorque) e preso por várias horas. Tudo isso sem motivo nenhum, pra ser liberado silenciosamente sem ter acusação alguma. Onze dias depois, devolveram o laptop do cara, tendo explorado (e possivelmente copiado) os confins dos arquivos do computador.

Já no caso da Poitras, a coisa é mais específica: insistem pessoalmente pra que ela explique tudo o que fez ou deixou de fazer em suas viagens. Além dos procedimentos padrões, é claro: pegam seu laptop, câmera, celular e não devolvem ao longo de semanas. Até mesmo cadernos e anotação são confiscadas e copiadas, além de seus dados do cartão de crédito. Tudo isso enquanto a interrogam durante horas e a intimidam dizendo o quanto ela é suspeita por "não estar colaborando" quando se recusa a contar da vida inteira. 

Cena de um de seus documentários.
Não é o tipo de coisa que eles querem que a gente assista.

A situação da coitada pra produzir seus documentários é tão desagradável que ela evita ao máximo viajar com aparatos eletrônicos ou mesmo discutir seus filmes por telefone (!), como se ela fosse uma grande mafiosa conspiratória. Ela usa mil códigos em seus computadores e distribui o material de suas pesquisas de várias formas elaboradas pra não acabar perdendo tudo nas mão do Departamento de Defesa americano. Bizarro.

E como se não bastasse, ainda reclamam quando ela faz anotações do que lhe acontece em suas dezenas de paradas em aeroportos. Aconselhada pelo advogado a anotar todos os detalhes sobre os procedimentos usados contra ela, Poitras registra tudo em um bloquinho. Porém, da última vez, ela foi proibida de fazer anotações e ameaçaram algemá-la se ela continuasse anotando tudo. Além disso, a acusam de "se recusar a cooperar com uma investigação" mesmo que, na verdade, oficialmente, não exista investigação alguma - só um curioso "questionamento" sobre suas viagens.

Afinal, a assustadora verdade é essa: ela não está cometendo (e sequer é formalmente suspeita de) crime nenhum. Ironicamente, seu "crime" é estar trabalhando no último filme de uma trilogia de documentários justamente sobre a postura paranóica americana em sua "Guerra ao Terror".

Ou seja: o grande perigo dessas pessoas não é ameaçar a população americana. É ameaçar os psicóticos interesses de quem quer que esteja no poder. Traduzo aqui um trecho pertinente do artigo que li sobre o assunto (LINK):

"É difícil realçar o quão opressivo é o Governo dos Estados Unidos poder perseguir jornalistas, cineastas e ativistas e, sem a mínima suspeita de mal comportamento, descobrir os detalhes mais íntimos e privados sobre eles e seus trabalhos: com quem se comunicam, o que está sendo dito e o que eles estão lendo. É um poder radical pra um governo reivindicar no geral. E quando começa a ser aplicado não aleatoriamente, mas em pessoas engajadas em ativismo e jornalismo desfavorável ao governo, torna-se pior do que radical: é o poder da intimidação e retenção daqueles que questionam de alguma forma a conduta do governo vigente."

E mesmo que você não seja nenhum grande revolucionário contra o paranóico governo Norte-Americano, tome cuidado com gracinhas na internet: os turistas europeus Leigh Van Brian e Emily Bunting foram barrados no Aeroporto Internacional de Los Angeles por causa de piadas no Twitter


Dois possíveis cúmplices em atividades terroristas.

Leigh Van havia simplesmente twitado que ia "destruir a América" (evidentemente no sentido de aloprar muito na night) e "desenterrar a Marilyn Monrou" (uma piada roubada do Family Guy). Mas pro Departamento de Segurança Nacional, isso é de uma ousadia ameaçadora demais pra ser permitida no país.

Os dois turistas foram deportados de volta pra Europa, bem longe da América: a Terra da Liberdade.


Nenhum comentário:

Postar um comentário